Apicultores do Piauí ganham selo do Comércio Justo

Casa Apis, com sede no município de Picos, é a primeira cooperativa do setor na América Latina a obter a certificação Fair Trade.

A Central de Cooperativas Apícolas do Semi-Árido Brasileiro (Casa Apis), com sede no município de Picos (Piauí), é a primeira cooperativa do setor na América Latina a obter certificação de comércio justo (Fair Trade), concedida pela Flor-Cert, certificadora alemã líder de mercado.

A conquista veio após um ano de trabalho do grupo, formado por cerca de mil apicultores, com apoio do Sebrae. Com esse diferencial, o mel produzido em Picos será exportado com preço acima do mercado, acrescido de 15%. Essa porcentagem é uma espécie de prêmio para o produto que possui certificação de comércio justo e deve ser obrigatoriamente revertida em prol do grupo e da região.

A Casa Apis reúne dez cooperativas, nove no Piauí e uma no Ceará. "A certificação potencializa a dinâmica comercial da central e beneficia diretamente as cooperativas filiadas e envolvidas no processo", afirma o presidente, José Leopoldo.

Para se enquadrar nesta categoria, os produtores devem se organizar em associações, adotar um processo democrático de decisões, ter a igualdade entre homens e mulheres, respeitar as leis trabalhistas e o meio ambiente. Já as empresas que compram pelo sistema comprometem-se a adquirir matérias-primas certificadas e a pagar um preço mínimo para possibilitar a produção. As empresas ainda devem pagar bônus para investimentos em projetos sociais e fechar contratos a longo prazo com os produtores.

Após a certificação, a central fechou contrato para enviar, em março, sete contêineres, com 280 quilos cada, para empresas distribuidoras da Bélgica, com potencial para atingir 26 países da Europa e Ásia, e dos Estados Unidos. O país europeu optou por receber o alimento a granel. Já os norte-americanos querem que o mel chegue pronto para consumo.

No caso da empresa americana, o produto seguirá com três agregações de valor, devido à certificação de mel orgânico, certificação de comércio justo e envio do mel fracionado (embalado em sache, bisnaga, entre outras formas). A Itália também já manifestou interesse em adquirir o mel certificado. "O comércio europeu está disposto a pagar mais pelo produto. O mesmo ocorre no Brasil, porém, em proporção menor. Hoje já encontramos nicho de mercado internamente", explica Leopoldo.

A expectativa é que nos próximos meses aumente o número de compradores internacionais do mel produzido no interior do Piauí. Isso porque um consultor de mercado da Casa Apis representará os apicultores na Biofach, feira que acontece entre os dias 17 a 20 de fevereiro, na cidade de Nuremberg, na Alemanha. "A feira será uma vitrine para o nosso produto. Vamos estar no estande do comércio justo", conta o presidente.

Atualmente o preço do mel no mercado internacional é de US$ 3,20/kg. Com a certificação de comércio justo, o valor ganha reforço de US$ 0,15 sobre o quilo vendido. No caso da Casa Apis, que também possui certificação de mel orgânico, o preço ganha ainda por um segundo acréscimo. A central de apicultores adquiriu essa certificação em 2009. No primeiro ano da novidade, os apicultores tiveram aumento de 20% no valor comercializado, passando de R$ 2 milhões para R$ 2,4 milhões.

De acordo com o gerente da Unidade de Agronegócios do Sebrae em Teresina, Francisco Holanda, a Casa Apis faz parte do Projeto Apis Araripe, que já atendeu dois mil apicultores na microrregião de Picos. "Trabalhamos a questão da agregação de valor e inserção do produto no mercado", disse. Segundo ele, no segundo semestre uma missão técnica da Espanha virá ao Brasil para conhecer o projeto de perto.

O Sebrae apoiou a Casa Apis a adquirir tanto a certificação de mel orgânico quanto a de comércio justo. A instituição investiu R$ 400 mil, sendo R$ 200 mil para cada certificação. Nesses valores estão inclusos gastos com os registros e o monitoramento permanente dos apicultores. A região ganhou recentemente o Centro de Tecnologia Apícola do Piauí (Centap). "O espaço irá desenvolver produtos, realizar pesquisas sobre florada, e trabalhar com incubadoras de empresas. São aspectos que vão agregar valor. É a tecnologia ligada à indústria", conta Holanda.

O apicultor Francisco de Carvalho Lopes fala com orgulho que é um Agente de Desenvolvimento Regional Sustentável (ADRS). Com apoio do Sebrae e da Fundação Banco do Brasil, os ADRs recebem capacitação técnica e depois repassam o conhecimento adquirido para os apicultores próximos da região onde vivem.

Francisco é presidente da Associação dos Pequenos Apicultores do Belém do Piauí. Ele também fala com orgulho sobre o esforço que todos os cooperados fizeram para ter competência em adquirir a certificação de Comércio justo. "Para nós representa principalmente um avanço no preço do mel", comemora.

Fonte: Xeyla Oliveira

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