Começou na China, migrou para a Europa e hoje assombra os Estados Unidos. Tudo indica que o epicentro da pandemia do coronavírus troca de lugar à medida que o patógeno se alastra por uma nova nação e suas autoridades de saúde conseguem criar ou não uma resposta rápida e eficiente para detê-lo, além de dar suporte adequado a quem fica doente.
O comportamento imprevisível desse vírus é uma das maiores angústias no enfrentamento da pandemia. E os médicos e cientistas reforçam esse ponto a todo momento diante de qualquer exercício de futurologia. Mas a experiência de outros países e os avanços nos dados epidemiológicos e nas medidas de contenção adotadas nos ajudam a vislumbrar se o Brasil corre o risco de sofrer mais ou menos com a Covid-19.
Perguntamos a alguns especialistas se eles acreditam que nosso país pode se transformar no novo centro da crise da Covid-19. Veja as respostas e análises
Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista, professor da Universidade de São Paulo (USP) e Presidente do Conselho do Instituto Horas da Vida:
Obviamente depende. Não dá para ser categórico nessa complexa questão. Não é “sim” pois acho que, de alguma forma, houve nos estados e municípios alguma preparação e, em parte, até agora conseguimos conviver com a epidemia. Temos sinais de exaustão do SUS em Manaus e Fortaleza, mas ainda temos tempo. Porém, se sairmos agora da quarentena, correremos o risco de nos transformarmos em algo semelhante a Itália.
Também dependeremos do tipo de resposta que a iniciativa privada dará ao colocar seus leitos de UTI para atender aos brasileiros. E não é “não” por essas razões: quarentena, perspectiva de uso de leitos privados, posição do governo federal agora sob nova direção, mas com a mesma orientação…
Celso Granato, infectologista e virologista, diretor clínico do Grupo Fleury:
Não vejo nenhuma razão para isso. Existem vários países com população muito grande e também expostos. Não consigo imaginar por que não seriam a Índia, a Rússia ou os próprios Estados Unidos [epicentro atual]. Não vejo nenhuma chance de o problema no Brasil ser muito maior do que em qualquer outra região do mundo. Mas, para que isso não aconteça por aqui, é muito importante que as pessoas sigam as orientações de saúde pública, continuem no isolamento social no máximo que for possível e lavando as mãos corretamente…
Praticamente todos os países do mundo já estão contaminados. Não vejo por que o Brasil teria um risco maior do que outros locais, especialmente se as pessoas aderirem aos cuidados já divulgados.
Pedro Hallal, epidemiologista e professor da Universidade Federal de Pelotas (RS):
Sim, o Brasil, ou qualquer outro país, pode ser o próximo centro da pandemia, desde que não tome atitudes preventivas baseadas em evidências científicas. No momento, a obtenção de dados epidemiológicos sobre a infecção na população, a manutenção do distanciamento social e a ampliação da política de testes são iniciativas que podem nos ajudar a evitar que sejamos o próximo epicentro.
Wladimir Queiroz, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (SP) e membro da SBI:
Acredito que depende. Depende de como será a política de isolamento e de como ela vai ser mantida. Se ela for corretamente mantida, existe chance de não sermos o novo epicentro da pandemia. Se isso for quebrado, acho que não vai ter como não ser o novo epicentro.
Gustavo Campana, diretor médico da Dasa:
Minha opinião é que o Brasil não deve virar o epicentro da pandemia e não deve ser o país com o maior número de casos. Especialmente porque algumas medidas foram tomadas de forma bastante precoce, como isolamento social e a detecção dos casos. Foi diferente do que aconteceu na Itália, por exemplo, onde os primeiros casos demoraram a ser detectados. Aqui a Dasa validou o teste de forma pioneira e diagnosticamos muito rápido os primeiros episódios e o isolamento social aconteceu antes. Isso tem um impacto importante para que a gente não seja o epicentro da epidemia.
A forma como a doença entrou no país, garantindo que os primeiros infectados permanecessem em isolamento, também nos favoreceu. Agora o vírus segue contaminando mais pessoas, mas nossas estruturas de saúde estão mais bem preparadas, tiveram tempo… Esses são os dois pontos mais importantes: o isolamento social precoce e a implantação dos testes, apesar de o país ter passado por um “apagão” de exames. Uma medida que ajuda a não virarmos o epicentro é planejarmos a volta do isolamento social de forma progressiva e organizada, para não sobrecarregarmos o sistema de saúde.
Sylvia Lemos, infectologista, professora da Universidade Federal de Pernambuco e membro da SBI:
Depende. Depende de como estão sendo encarados o coronavírus e a pandemia, depende de como as políticas públicas são implantadas e de como a sociedade vai reagir a ela. Assim como depende de como as pessoas reagem à própria infecção, uma vez que a imunidade varia entre os pacientes e resulta em formas diferentes da doença. Depende de muitas coisas, infelizmente.
Paulo Eduardo Brandão, virologista, especialista em coronavírus e professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP:
Sim. Se definirmos o epicentro da pandemia como sendo o de um país onde há uma rápida ascensão no número de infectados, doentes e mortos, o Brasil já se mostra o centro da epidemia, na verdade. E isso é resultado da ausência de testes em larga escala, de medidas de isolamento social em todo o território nacional e de capacidade hospitalar adequada.
Postado pelo Administrador e Músico Robert Ferreira, com base em artigo do site SAÚDE, de Diogo Sponchiato, Theo Ruprecht
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