Há poucos dias da realização do Simpósio Internacional
sobre Raças Nativas em Teresina (de
19 a 22 de agosto), o público interessado na preservação das raças nativas recebe uma boa notícia.
O mapa genético do caprino Marota,
traçado recentemente, trouxe uma boa notícia para os pesquisadores e criadores
da raça: a ameaça de extinção desse animal está afastada a curto e médio
prazos. O estudo constatou que a diversidade genética entre os 108 animais do
plantel de pesquisa da Embrapa Meio-Norte, em Teresina (PI), é ampla o
suficiente para multiplicar com segurança a população da raça.
A boa-nova está na tese de doutorado
em Ciência Animal da Universidade Federal do Piauí, elaborada pela bióloga
Jeane de Oliveira Moura, professora do Instituto Federal de Educação no Piauí.
O caprino marota ocupa posição de destaque na lista de animais ameaçados de
extinção, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura
e Alimentação (FAO). O estudo revela também que, a cada mês, uma raça de animal
domesticada é extinta no mundo.
A importância da variabilidade
genética em um rebanho, segundo Jeane Moura, é evitar a perda de vigor causada
pela endogamia, reprodução entre animais de parentesco próximo, consanguíneos,
refletindo em menor capacidade de reprodução e maior probabilidade de
ocorrência de doenças genéticas.
O trabalho da bióloga começou há nove
meses e foi fundamentado nos estudos de variabilidade e diversidade genética do
plantel da Embrapa. A ideia do mapeamento era conhecer o fluxo gênico (passagem
de um determinado gene de uma geração à outra) para que os cientistas pudessem
conduzir melhor e com mais segurança trabalhos de melhoramento genético e
conservação da raça.
A coleta de amostras do material
biológico, cerca de três mililitros de sangue de cada animal, foi o primeiro
passo. Enviado ao laboratório Deoxi Biotecnologia, no Município de Araçatuba,
em São Paulo, o material foi submetido à moderna tecnologia de genotipagem, o
BeadChips, que contém mais de 50 mil marcadores moleculares. A análise
confirmou a variabilidade e a diversidade genética do plantel.
A partir de agora, a equipe da
Embrapa e da Universidade Federal do Piauí vai propor um modelo de manejo
genético que busque o acasalamento de animais distintos geneticamente, para
manter a maior proporção de variabilidade da raça Marota.
"O outro foco do estudo,"
diz a professora, "será o descarte dos animais geneticamente semelhantes,
já que manter um plantel sem variabilidade não atinge o objetivo maior, que é a
preservação da raça". Esse esforço é importante para melhor uso dos
recursos disponíveis à pesquisa na região Nordeste. O trabalho manterá
informações genéticas para futuros cruzamentos com raças sem resistência a
doenças, seca e altas temperaturas.
Mais de mil indivíduos para afastar
extinção
A ciência estabeleceu que um grupo de
animais domésticos é considerado em risco de extinção quando existem menos de
100 fêmeas no rebanho ou menos de 20 em reprodução. O alerta dos
cientistas é que, assim como os animais silvestres, os grupos genéticos dos
animais domésticos ameaçados de extinção não podem ser recriados, sendo uma
perda irreversível à biodiversidade, à agricultura e à alimentação.
Para a pesquisadora Adriana Mello, da
Embrapa Meio-Norte, e orientadora da bióloga Jeane Moura, quanto menor o
tamanho de uma população animal, mais vulnerável ela está às variações
demográficas e ambientais e a fatores genéticos que podem levá-la à extinção.
Portanto, segundo Adriana, a ameaça de extinção da raça Marota só vai
desaparecer se o número de reprodutores e matrizes de puro-sangue
superar mil exemplares. O animal puro-sangue é aquele que não passou por
cruzamento ou recebeu material genético de outra raça.
Ela acredita que a multiplicação dos
rebanhos de marota em parceria com produtores é a base da luta dos
pesquisadores pela conservação da raça. Segundo Mello, se for mantida a
diversidade genética no núcleo de conservação da marota na Embrapa, a
multiplicação de animais elevará o tamanho da população e acabará de vez o
risco de desaparecimento, pondo fim ao ciclo de ameaça de extinção, conhecido
no meio científico como "vórtex de extinção".
Rede de preservação
A história da preservação de pequenos
animais nativos no Brasil tem como expoente o engenheiro civil e professor
universitário aposentado Manoel Dantas Villar Filho, conhecido nacionalmente
como Manelito Dantas, de 78 anos. Foi no ano de 1972, na Fazenda Carnaúba,
Município de Taperoá, no Cariri paraibano, a 216 quilômetros de João Pessoa,
que ele deu o pontapé inicial em iniciativas de preservação.
Incentivado pelo primo e um dos
maiores nomes da dramaturgia brasileira, Ariano Sussasuna, o professor Manelito
Dantas montou uma fazenda com animais nativos, tendo no caprino marota o
principal destaque. Passados 43 anos do início da maior empreitada da vida da
família Dantas Villar em Taperoá, a Fazenda Carnaúba, com 960 hectares, exibe
prosperidade. O núcleo de conservação de pequenos animais mantém 16 raças
nativas, com mais de 200 exemplares só de marota. É o maior rebanho da raça
conhecido no Brasil.
A família Dantas Villar não está
sozinha na luta pela preservação dos pequenos animais nativos no Nordeste
brasileiro. Na Fazenda Faveira, no Município de Elesbão Veloso, a 154
quilômetros de Teresina, no centro-norte do Piauí, o também engenheiro civil e
empresário José Ferreira Dantas Filho, de 55 anos, aposta na criação de
caprinos ameaçados de extinção. Além do marota, raça da qual ele mantém
cerca de 200 exemplares, o empresário cria animais das raças Moxotó, Azul,
Repartida, Graúna, Canindé e Parda Sertaneja.
"Quero contribuir com as futuras
gerações, preservando raças que fazem parte da história da colonização do Piauí
e região", justifica José Dantas Filho. Na fazenda com 1.100 hectares, às
margens da BR 316, criada há 25 anos, o núcleo de conservação tem mais de 700
exemplares com o objetivo de melhorar as raças, identificando suas aptidões. O
objetivo maior do empresário é ajudar na ampliação dos rebanhos nativos na
região, difundindo as raças.
Também no Piauí, no Município de
Pedro II, 195 quilômetros ao norte de Teresina, está nascendo um novo núcleo de
conservação de pequenos animais nativos ameaçados de extinção. Na Escola
Família-Agrícola Santa Ângela, que mantém o ensino médio técnico em
agropecuária, agroindústria e turismo rural para 280 alunos, ganha força a
ideia da conservação de animais para as futuras gerações.
Com 85 anos, a Irmã Celina, freira da
congregação Ursulina e Diretora da Escola, aos poucos está construindo o que
ela chama de "plataforma" para aulas práticas sobre o manejo de
pequenos animais. O núcleo de conservação, hoje com pouco mais de 100
exemplares da raça caprina Moxotó, é a matriz de um grande projeto que a
religiosa pretende desenvolver na região norte do Piauí. O núcleo está se
preparando para receber exemplares da raça Marota e participar da rede de
preservação animal.
A Embrapa, em nível nacional,
desenvolve o projeto Rede de Recursos Genéticos Animais em parceria com a
Universidade de Brasília e empresas estaduais de pesquisa. Liderado pela
pesquisadora Maria do Socorro Maués Albuquerque, da Embrapa Recursos Genéticos
e Biotecnologia, o projeto conserva animais em núcleos de criação, como na
Fazenda Experimental Sucupira, em Brasília, com 200 exemplares, e num banco
genético, com mais de 50 mil doses de sêmen e pelo menos 300 embriões.
A Rede Animal, articulada e
desenvolvida por dez centros de pesquisa da Embrapa nas regiões Norte,
Nordeste, Centro-Oeste e Sul, reúne projetos focados nas raças
"naturalizadas" de animais domésticos que estão no Brasil desde a
colonização do País. Eles são importantes para os programas de melhoramento
genético, pois ganharam características como rusticidade e adaptabilidade à
temperatura e ao clima das regiões onde se desenvolveram.
Um nativo do Nordeste brasileiro
O rebanho de caprinos (Capra
aegagrus hircus) no Brasil está praticamente estabilizado desde 2011,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
levantados pela pesquisa pecuária municipal. São quase dez milhões de
exemplares. Os cinco estados com os maiores rebanhos concentram 81,8% de todo o
efetivo nacional. Bahia, Pernambuco e Piauí são os estados que ainda permanecem
como os maiores criadores de caprinos.
Como outras raças, a Marota surgiu de
um processo de seleção natural de caprinos introduzidos pelos portugueses no
período de colonização do País. É uma raça nativa do Nordeste, com origem no
Vale do Rio São Francisco, entre os sertões de Pernambuco e Bahia. De pelagem
branca, pequeno porte e baixa produção de leite, ela é rústica e se
adapta bem às típicas adversidades nordestinas, como altas temperaturas e
longos períodos de seca. Em toda a região, existem pelo menos dois mil
exemplares, puros, espalhados pelos estados do Piauí, Paraíba, Pernambuco,
Ceará e Bahia.
Simpósio Internacional sobre raças
nativas
Teresina vai sediar, de 19 a 22 de
agosto próximo, na Universidade Federal do Piauí - UFPI, o I Simpósio
Internacional de Raças Nativas: sustentabilidade e propriedade
intelectual-2015. O evento, que é uma realização do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, com apoio da Embrapa, vai reunir pesquisadores e
professores do Brasil e do exterior, que discutirão também a conservação e
melhoramento de recursos genéticos animais e sistemas produtivos sustentáveis.
Paralelamente ao simpósio, serão realizadas a I
Exposição de Raças Nativas Brasileiras, a Exposição Nordestina de
Anglo-Nubiano e a ExpoTeresina.
Contatos com:
Fernando Sinimbu (MTb 654/PI)
Embrapa Meio-Norte
meio-norte.imprensa@embrapa.br
Telefone: (86) 3198-0518
Embrapa Meio-Norte
meio-norte.imprensa@embrapa.br
Telefone: (86) 3198-0518
Postado por Robert Ferreira com base em artigo publicado
no site da EMBRAPA. Mais informações sobre o tema buscar
o Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) - www.embrapa.br/fale-conosco/sac/
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