De Tostão, ex-craque da bola e agora craque da crônica esportiva, sobre um certo clima belicoso que está cercando a preparação da seleção para a copa. "Parece que o Brasil vai para uma guerra e não para uma disputa esportiva", comenta ele, criticando a exploração do nacionalismo e do ufanismo em comerciais que exigem que os jogadores sejam guerreiros. "É a palavra da moda, muito mais importante do que saber jogar futebol é ser guerreiro". O cronista tem razão. Vi alguns desses filmes e o apelo mais usado não é ao talento ou à habilidade, mas à raça, à garra, à paixão. São gritos de guerra. Em um, Dunga aparece dizendo: "Eu falo pouco, mas falo como guerreiro. Eu quero raça, essa é a nossa hora". Em outro a afirmação é que "é preciso mais do que talento com a bola p'ra ser campeão: é preciso garra" (na verdade é o inverso: mais que raça é preciso talento). O curioso é que a rima para guerreiro não é, por exemplo, artilheiro, mas "brahmeiro", outra palavra da moda.
Leio na internet alguém do marketing da empresa explicar que o "brahmeiro é o brasileiro trabalhador que batalha pelos seus sonhos com garra e determinação". E que a mensagem dos comerciais "é despertar a atitude guerreira da seleção e de todos os 190 milhões de brasileiros e mostrar que os jogadores são guerreiros em campo, assim como os brahmeiros são na vida". Será isso mesmo? Quando se pretende se reduzir a violência nos estádios e promover a convivência pacífica entre as torcidas, não parece muito pedagógico - mesmo gostando de cerveja - transformar os torcedores em valentes bebedores e os jogadores em bravos soldados prontos para a copa, ou melhor para a guerra.
Por Zuenir Ventura
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